My Blog

Personagens em narrativas de ficção, sejam elas literárias ou cinematográficas, apresentam personalidades e características análogas às de pessoas reais. Como autor, você revela esses traços ao leitor através da caracterização direta ou indireta. Pode-se explicitar diretamente as qualidades de um personagem, ou, de maneira mais sutil, demonstrá-las por meio de suas ações, palavras e pensamentos, deixando ao leitor a tarefa de deduzir suas peculiaridades.

A caracterização indireta é uma técnica mais elaborada e, potencialmente, mais desafiadora de dominar como recurso literário. A definição a seguir de caracterização indireta esclarecerá as diferenças entre os dois métodos, fornecendo exemplos e orientações sobre como aplicar essa técnica em sua escrita.

O que é caracterização indireta?

Ao criar um roteiro, conto ou romance, você desenvolve figuras fictícias conhecidas como personagens, que podem variar de heróis a antagonistas. É imprescindível retratar esses personagens descrevendo sua aparência, perspectivas, personalidades, pensamentos íntimos e ações. Traços e detalhes dos personagens auxiliam os leitores a compreender e simpatizar ou antipatizar com eles. Caracterização, frequentemente sinônimo de desenvolvimento de personagem, refere-se a essa representação. Existem dois tipos principais de caracterização:

Caracterização direta:

“Ele não era bem visto, pois era um homem de moralidade duvidosa.”

Caracterização indireta:

“Todas as manhãs, ao caminhar pelo quarteirão, as pessoas desviavam dele, pois ele tinha o hábito de resmungar baixinho e fixar o olhar nos olhos das pessoas.”

Como se pode perceber, o exemplo de caracterização direta informa ao leitor sobre as qualidades de um personagem e até passa um julgamento moral. Sem mais detalhes, o leitor apenas aceita a palavra do autor. O segundo exemplo de caracterização indireta mostra um comportamento típico do personagem e deixa o leitor tirar suas próprias conclusões a partir das reações dos outros. A descrição não rotula a pessoa como desagradável, mas exibe um comportamento desagradável. A caracterização indireta é mais sutil, ambígua e envolvente. Mesmo que o leitor não simpatize com esse personagem, sua curiosidade pode ser despertada, incentivando-o a querer saber mais.

A caracterização indireta opera através de inferências. Como escritor, você descreve a aparência, pensamentos ou ações de um personagem que sugerem uma certa personalidade, como eles interagem com outros personagens, traços de caráter ou código moral para o leitor. Considere os seguintes atos de personagem:

O personagem chuta um cachorro:

É razoável supor que o leitor possa imaginar essa pessoa como alguém desagradável, mesquinho, infeliz, maligno, amoral, inescrupuloso, desonesto, vilão, corrupto…

O personagem salva um gato:

Ao ver um personagem realizar essa ação, o leitor pode pensar nele como alguém simpático, heróico, gentil, nobre, ousado, íntegro, altruísta, compassivo, humano, moral…

Você captou a ideia: em nenhum dos casos a escrita informa diretamente ao leitor sobre o personagem, sua vida interior ou os princípios que o guiam. As ações do personagem e o que associamos a elas nos levam a inferências sobre o personagem. Essa técnica retrata a personalidade do personagem indiretamente.

A caracterização indireta mostra os traços de personalidade de um personagem sem comunicá-los diretamente ao leitor. O escritor emprega recursos literários como símiles, metáforas e analogias, além de descrições de detalhes do personagem, como traços físicos, ações, pensamentos, palavras e reações de outros personagens. A partir disso, o leitor fará inferências e deduções sobre o personagem, bem como seus traços e personalidade.

Caracterização direta vs. indireta: em que elas diferem?

O oposto da caracterização indireta é a caracterização direta, na qual você, como escritor, faz declarações explícitas sobre um personagem, seus pensamentos e sentimentos, ou as motivações do personagem. Essa abordagem direta pode parecer como se você estivesse se dirigindo diretamente ao leitor. A maioria dos escritores utiliza caracterização direta e indireta, geralmente para efeito.

Acima, ilustramos o princípio de mostrar com os atos de personagem, como chutar um cachorro ou salvar um gato, e as inferências do leitor a partir disso. Vejamos um exemplo de caracterização direta:

Caracterização através do narrador: Ela era bonita, com cabelos longos, loiros e soltos.

Por meio de outro personagem: “Senhor Thompson, eu não gosto dele; ele sempre fica com aquela cara feia, julgando você.”

Pelo próprio caráter: Sou um homem de gostos simples, mas difícil de agradar.

Caracterização explícita ou direta: o escritor descreve ao leitor como é um personagem e fala sobre sua personalidade ou traços de caráter como se estivesse dando uma descrição física, seja por meio do narrador, de outro personagem ou do próprio personagem.

Caracterização implícita ou indireta: o leitor faz avaliações do personagem por meio de inferências dos pensamentos do personagem, suas ações e aparência física, sua maneira de falar e outros maneirismos, e interação com outros personagens.

Em resumo: a diferença entre caracterização direta e indireta é se o escritor transmite a caracterização diretamente ao leitor ou apenas implica coisas sobre o personagem. A caracterização direta conta, enquanto a caracterização indireta mostra.

Métodos de caracterização indireta

Equilibre sua caracterização direta e indireta e use as seguintes técnicas e métodos em sua escrita:

Seja direto desde o início: você pode manter a caracterização direta para detalhes cruciais do personagem que deseja estabelecer desde o começo e, depois, desenvolvê-los indiretamente.

Deixe acontecer: Exemplos indiretos de traços de caráter funcionam bem quando são relevantes para a história. Não insira flashbacks com o único propósito de representar as ações do seu personagem de muito tempo atrás, mas revele sua personalidade conforme as cenas do seu enredo se desenrolam uma por uma.

Ação e reação: Seus personagens têm sua própria agenda ou motivação em cada cena, independentemente de serem o vilão, o herói ou um personagem secundário. Deixe o leitor fazer inferências de suas ações e reações conforme suas emoções, pensamentos e atitudes vêm à tona.

O propósito de ser direto: a caracterização direta tem o benefício de ser concisa, então você pode usá-la com moderação para recapitular coisas para o leitor, inserir lembretes ou aprimorar a voz narrativa.

Voz narrativa: O narrador da sua história, esteja ele envolvido na trama ou não, terá sua própria visão das coisas. Injete personalidade na voz dele e permita que ele caracterize as personae.

Diálogo: seus personagens conversando entre si podem ser mais eficazes para transmitir informações, incluindo detalhes do personagem.

A caracterização indireta é uma ferramenta vital na criação de personagens dinâmicos e complexos em sua escrita. Ela permite que você revele sutilmente a personalidade e os traços de um personagem por meio de suas ações, fala, pensamentos e interações com outros, em vez de depender apenas de descrições diretas e explícitas. Esse método não apenas adiciona profundidade e realismo aos seus personagens, mas também envolve seus leitores, encorajando-os a deduzir e compreender as complexidades de cada personagem.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *